A próstata, a mama e o endométrio necessitam dos hormônios sexuais para seu crescimento e funcionamento. O câncer que se desenvolve a partir de células desses órgãos mantém certa dependência desses hormônios.
A hormonioterapia busca inibir o crescimento do câncer pela retirada do hormônio da circulação – chamada de ‘privação’ – ou pela introdução de uma substância com efeito contrário ao hormônio (antagonista).
A terapia hormonal, a exemplo da quimioterapia, tem ação sistêmica, isto é, age em todas as partes do corpo. Geralmente é utilizada em combinação com cirurgia, radioterapia e quimioterapia no controle do câncer.
A terapia hormonal é desenvolvida em três níveis:
Supressão androgenotesticular
O tratamento padrão da doença disseminada é o bloqueio (supressão) da produção dos andrógenos. Considerando-se os níveis de PSA (antigénio prostático específico – proteína produzida pelas células da glândula prostática) e as dores ósseas como parâmetros para decisão, a supressão androgênica proporciona resultados positivos em até 85% dos pacientes tratados. Essa supressão pode ser alcançada com a retirada cirúrgica dos testículos (orquiectomia) ou pela inibição medicamentosa da liberação de gonadotrofinas pela hipófise, o que leva à atrofia dos testículos (castração medicamentosa).
A supressão medicamentosa pode ser obtida por meio da administração de estrógenos ou de agonistas dos hormônios liberadores de gonadotrofina (GnRH). Apesar de ambas trazerem resultados semelhantes, a castração cirúrgica é aceita com mais dificuldade pelos pacientes devido a fatores psicológicos.
Bloqueio androgênico total
O bloqueio dos receptores hormonais pelos antiandrogênios completa a supressão hormonal proporcionada pela castração cirúrgica ou medicamentosa. Essa associação recebe o nome de privação androgênica total. O uso de antiandrogênios representa ainda uma alternativa para os casos em que a supressão testicular falha.
Diversos estudos mostraram que a terapia combinada (associação de um agonista do GnRH ao antiandrogênio) tem eficácia superior à supressão testicular isolada. Mesmo assim, trata-se de uma questão ainda polêmica. Outra vantagem importante do uso dessa classe de medicamentos é evitar o flare (aumento da dor óssea) que pode ocorrer com o uso de agonistas do GnRH (ver medicamentos utilizados – efeitos colaterais)
Bloqueio adrenal
A secreção dos andrógenos pelas glândulas suprarrenais pode ser eliminada com a remoção cirúrgica dessas glândulas ou pelo seu bloqueio medicamentoso. Trata-se de um recurso menos eficaz que os anteriores.
Efeitos colaterais
É baixa a incidência de efeitos colaterais graves, o que determina excelente tolerância à terapia hormonal e proporciona amplas possibilidades de associação com as demais formas de tratamento, em diferentes fases de evolução de alguns tipos de câncer.
Indicações
A terapia hormonal é indicada no tratamento do câncer de próstata, de mama e de endométrio, podendo ser utilizada nos casos de doença avançada ou localizada apenas no órgão de origem.
Perguntas frequentes
O que são hormônios?
Hormônios são moléculas que atuam como mensageiros químicos na coordenação do desenvolvimento e do funcionamento do organismo seja por meio de indução ou inibição de ação dos mais variados órgãos. Essas moléculas são produzidas por diversas glândulas e/ou neurônios, circulam pelo sangue e fluidos corporais e exercem seus efeitos sobre o crescimento, o equilíbrio do organismo (homeostasia) e o metabolismo energético e a reprodução.
O que são hormônios sexuais?
Os hormônios sexuais são substâncias produzidas pelos ovários, testículos ou pelas glândulas adrenais (ou suprarrenais). Sintetizados a partir de alterações na molécula do colesterol, são também chamados esteroides. Esses hormônios são responsáveis pela reprodução e pelo desenvolvimento das características sexuais, além de desempenhar um importante papel no crescimento. Os hormônios sexuais começam a ser produzidos após a puberdade, momento em que o organismo torna-se capaz de reproduzir. Os principais hormônios sexuais femininos são o estrógeno e a progesterona, e o masculino, a testosterona.
Durante o período reprodutivo das mulheres, a progesterona e a maior parte do estrógeno são produzidos pelos ovários. Após a menopausa, a glândula suprarrenal se torna a principal fonte de produção dos hormônios femininos. Nos homens, o testículo é o principal produtor de hormônio masculino (andrógeno), sob a forma de testosterona. A suprarrenal também produz outros hormônios masculinos mais fracos. Os andrógenos são transformados, no interior da próstata e dos outros tecidos sensíveis, na sua forma mais potente: a diidrotestosterona (DHT).
Durante o período reprodutivo das mulheres, a progesterona e a maior parte do estrógeno são produzidos pelos ovários. Após a menopausa, a produção de hormônios pelos ovários se encerra, fazendo da suprarrenal a principal fonte de hormônios femininos. Nos homens, o testículo é o principal produtor de hormônio masculino (andrógeno), sob a forma de testosterona. A suprarrenal também produz outros andrógenos mais fracos. Os andrógenos são transformados, no interior da próstata e dos outros tecidos sensíveis, na sua forma mais potente: a diidrotestosterona (DHT).
Como agem os hormônios sexuais?
Os hormônios sexuais ligam-se a locais específicos nas células-alvo. Essa ligação gera comandos de crescimento e multiplicação destas células.
Como é controlada a produção dos hormônios sexuais?
O mecanismo de controle dos hormônios sexuais é bastante complexo e envolve o sistema nervoso central, a glândula hipófise e as glândulas que os produzem – ovários, testículos e glândulas suprarrenais. O início da produção dos hormônios sexuais acontece na puberdade e é comandada pelo hipotálamo, no sistema nervoso central. O hipotálamo coordena o trabalho da hipófise, que produz hormônios (gonadotrofinas) capazes de estimular as glândulas produtoras de hormônios sexuais.
Qual o papel dos hormônios sexuais no desenvolvimento do câncer?
Alguns dos fatores de risco já identificados para o desenvolvimento do câncer da mama e do endométrio (camada que reveste internamente o útero) estão relacionados aos hormônios sexuais:
- A menarca (primeira menstruação) precoce e a menopausa tardia prolongam a exposição do corpo da mulher aos hormônios, aumentando os riscos de desenvolvimento do câncer de mama.
- A obesidade, a menopausa tardia e os ovários policísticos (responsáveis pela manutenção de níveis mais elevados de estrógeno na circulação), aumentam as chances de desenvolvimento do câncer de endométrio (útero).
- A administração prolongada de estrógeno pode aumentar a ocorrência do câncer de mama e de endométrio.
Já o papel da testosterona no desenvolvimento do câncer de próstata não é tão bem conhecido, apesar de alguns estudos terem demonstrado que maiores níveis desse hormônio no sangue aumentam as chances de desenvolver a doença. O papel, no entanto, do estímulo, da testosterona a um câncer de próstata previamente desenvolvido está mais bem demonstrado.
Fonte: Hospital Albert Einstein